O Estoril Classics é um palco que permite vislumbrar carros raríssimos e que deixaram a marca na história do desporto automóvel e este ano não será excepção, sendo um dos casos o emblemático Tyrrell P34 – o único Fórmula 1 de seis rodas a competir.
Ao longo da história do automobilismo, algumas máquinas destacaram-se pela o avanço tecnológico que apresentaram ou pelos resultados que conquistaram, como foi o caso do Auto Union de Grande Prémio dos anos 1930 ou do Porsche 917 do final dos 1960 e início dos 1970.
O Tyrrell P34, animado pelo venerável motor Ford Cosworth DFV, é um dos carros que cai nesta categoria de carros que ficaram indelevelmente na história do desporto automóvel.
O P34 – Project 34 – foi uma ideia de Derek Gardner, o competente projectista da Tyrrell nos 1970, numa era em que quase todas as equipas usavam os propulsores concebidos e construídos pela Cosworth.
Neste cenário, eram os chassis que procuravam fazer a diferença competitiva, e todas as escuderias tentavam encontrar soluções para se imporem no palco dos Grandes Prémios.
Foi desta necessidade que o engenheiro inglês abordou a possibilidade de conceber em 1975 um monolugar com seis rodas – duas normais na traseira e quatro mais pequenas na dianteira.
Isto permitia um menor arrasto aerodinâmico, uma vez que os pneus de 10’’ ficariam escondidos pela asa dianteira, permitindo ainda uma canalização de mais ar para asa traseira, que passava a funcionar de uma forma mais eficiente.
Claro que no desporto automóvel nada é de graça e colocar quatro rodas na dianteira, todas elas direcionais, representava peso extra, uma característica da qual qualquer engenheiro de corridas foge a sete pés. Para além disso, o arrefecimento dos travões dianteiros era também um problema.
Ainda assim, Derek Gardner conseguiu contornar os problemas e, na quarta prova da temporada de 1976, a Tyrrell apresentou-se em Jarama, para o Grande Prémio de Espanha, com um P34 para Patrick Depailler, ao passo que ‘desconfiado’ Jody Scheckter continuava aos comandos de um 007.
O francês mostrou a validade do projecto com o terceiro posto na qualificação, muito embora tenha abandonado na corrida devido a problemas de travões. No entanto, os resultados começariam a aparecer no Grande Prémio do Mónaco, com um segundo lugar para Scheckter e um terceiro para Depailler.
Mas seria em Anderstorp que o arrojo de Derek Gardner seria recompensado, com o sul-africano a liderar uma dobradinha para a Tyrrell, naquela que foi a única vitória da história de um carro de seis rodas num Grande Prémio de Fórmula 1.
No final da temporada, com dez pódios e uma vitória, o Tyrrell P34 garantia à equipa de Ken Tyrrell o terceiro lugar no Campeonato de Construtores, a 12 pontos da Ferrari, a Campeã.
Mas um problema começava a afligir o carro de seis rodas – a falta de desenvolvimento dos pneus dianteiros de 10’’, que eram concebidos e fornecidos pela GoodYear.
Segundo os cálculos de Derek Gardner, a diferença de performances entre os pneumáticos traseiros, comuns a todas as equipas, e os dianteiros, específicos para a Tyrrell, cifrava-se nos dois segundos por volta, o que criava enormes problemas de comportamento do P34, que em 1977 seriam pilotados por Patrick Depailler e Roonie Peterson.
Na sua segunda temporada, o Tyrrell, mesmo com uma carenagem para o motor, não se mostrou capaz de repetir os resultados da época anterior, conquistando apenas quatro pódios, o que atirou a equipa do ‘Lenhador’ para o sexto lugar do Campeonato de Construtores.
Em 1978 a formação britânica voltaria a um design convencional, com apenas quatro rodas, mas o Tyrrell P34 ficaria na história da Fórmula 1, como sendo o único monolugar a competir e, inclusivamente, a vencer um Grande Prémio.
É este ‘pedaço de história de automobilismo’ que os adeptos portugueses poderão olhar durante o Estoril Classics, uma vez que Jonathan Holtzman levará até ao Autódromo do Estoril o seu Tyrrell P34 com o chassis #009 (um ‘continuation’ realizado com os planos originais e com a autorização da Tyrrell), sendo a configuração apresentada a de 1976, com o motor exposto, semelhante à que permitiu Scheckter vencer na Suécia.
Na época, a Tyrrell construiu oito chassis que ficaram completamente desactualizados quando a equipa decidiu terminar o projecto no final 1977. No entanto, Ken Tyrrell, percebendo que o seu carro teria valor histórico no futuro, vendeu-os a todos, excepto um, precisamente aquele em que Scheckter venceu na Suécia. Hoje em dia, um P34 original está avaliado em mas de um milhão de euros.
O único ‘Fórmula 1 de seis rodas da história’ tomará parte no tradicional Classic GP do Estoril Classics, sendo um dos carros que mais interesse suscitará da parte dos fãs, até porque todos aqueles que adquirirem ingressos de paddock, poderão ver de bem perto o Tyrrell P34.
Os bilhetes para o paddock estão já à venda, custando o ingresso diário 20 euros para sexta-feira e 35 euros para sábado e domingo. O passe para os três dias fica apenas em 50 euros, ao passo que as crianças até aos 16 anos tem acesso livre ao paddock, desde que acompanhadas por um adulto.
Os bilhetes podem ser adquiridos através do website oficial BOL.pt ou na FNAC ou Worten. Como tem sido habitual, o número de ingressos está limitado ao espaço físico do paddock do Autódromo do Estoril.
Como é tradição desde a primeira edição do Estoril Classics, o acesso à bancada A do Autódromo do Estoril é grátis, permitindo que todos os adeptos possam assistir à grande festa que se celebra no histórico circuito português.
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